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O suicida do Cristo

Este texto foi publicado simultaneamente por César Tartaglia no blog No Front do Rio do Globo.com

Adam Bizauskas nasceu na Lituânia e planejava onde iria morrer. Amante da literatura romântica e obcecado pelo mundo virtual e suas novas tecnologias, decidiu matar-se depois de uma pesquisa no Google: “A Lituânia é o país com a maior proporção de suicídios no mundo.” Interessou-se pelo tema e, embora não fosse triste, tampouco era feliz. Um dia, então, resolveu seguir o destino pátrio.

Diante do computador, o jovem Bizauskas aventurou-se por dias e noites nas mais famosas cidades do mundo, mais famosas que a sua fluvial Vilnius. Ao fim, uma certeza: se mataria na exótica cidade do Rio de Janeiro: moderna, quente, marítima, florestal, violenta, promíscua e acolhedora.

Era 3 de janeiro de 2011 quando Bizauskas, curioso e decidido, subiu ao Cristo Redentor para, ali, juntar-se ao hall de privilegiados que decidiram a data da própria morte. O clima não estava como sonhara, era um dia abafado e nublado. Entretanto, entre as nuvens, tentava admirar e adivinhar a paisagem, comparando com as fotografias do seu guia de viagens.

Não se animou com os prédios que nasciam depois da Floresta da Tijuca, com a Baía de Guanabara, sequer se animou com a vista do Pão de Açúcar. Mesmo assim, olhou para cima, como a agradecer por aquele momento banal e conseguiu avistar o rosto do Cristo que se desvencilhou das nuvens com um aparente assopro.

Era um rosto como o seu, pensou. O Cristo não parecia triste, não parecia feliz. Seu rosto de pedra-sabão não expressava absolutamente nada. Refletiu que Cristo era o suicida mais famoso da história. Olhou novamente para aquele rosto sem expressão e pela primeira vez na vida, embora tão próximo da morte, sentiu-se irmão de Deus.

Bizauskas caminhou até o parapeito, respirou fundo, estava pronto. Evitou pensar na dor, na vida após a vida, evitou pensar. Debruçou-se sobre a paisagem de cartão postal e cutucaram-lhe o ombro. Bizauskas olhou assustado: seria uma intervenção divina? Não. Era apenas um casal que solicitava uma foto para guardar de lembrança. Conversaram em inglês, Bizauskas fotografou-os e pediu para que olhassem se haviam gostado. O casal de turistas, animado, virou-lhe as costas. A mocinha, não muito satisfeita, queria outra. Quando viraram-se de volta, Bizauskas não estava mais lá.

Antunes
Rio de Janeiro, 15 de janeiro de 2011

Ilustração: Rogerio.

Crônica falada 3: Cristo Redentor

Caro leitor, não sei se o Rio de Janeiro continua lindo. Afinal, eu só estou aqui agora, não posso dizer que a lindeza é continuada, renovada, piorada… eu, particularmente, continuo feio e trago-lhe a seguinte questão: o que poderia ter no lugar do Cristo, heim?

Para ver os todas Crônicas Faladas, clique aqui

Antunes
Rio de Janeiro, 3 de março de 2011

Abaixo de Cristo

Por Vinni Corrêa – PARTICIPAÇÃO ESPECIAL

Como é sabido por alguns conhecidos meus, a altura é um dos meus maiores medos, ainda que ao mesmo tempo eu possa ter fascínio por ela. Desde que eu me sinta seguro, é claro. E falar em altura, para mim, é como falar de algo do Rio de Janeiro, é como adorá-lo ao mesmo passo em que temo alguns aspectos dessa cidade, incluindo seus gentílicos. Quando o meu amigo Vinícius Antunes me solicitou que escrevesse algo sobre o Cristo Redentor, pensei: por que ele não pedira para falar do Monumento Cristo Terceiro Milênio, em Caxias do Sul, ou o Sagrado Coração de Jesus, estátua que se localiza na cidade de União de Vitória/PR, ou o Cristo de Pouso Alegre, ou ainda o da cidade de São José do Rio Preto, ou os diversos Cristos deste Brasil? Todos estão a uma altura bem menor. Não seria imprudente afirmar que nenhum deles está à altura do Cristo Redentor, ainda mais sobre o Corcovado.

É possível chegar ao monumento de duas formas, pegando trilhas pela Floresta da Tijuca que saem do Jardim Botânico, Parque Lage e Cosme Velho. Todas essas trilhas desembocam nos trilhos do Trem do Corcovando – exatamente, Trem do Corcovado, nunca chame de bondinho, senão o pessoal do trem pedirá que você vá a Santa Teresa -, que é a outra opção para chegar ao destino. Ainda não encarei as trilhas, mas o passeio no trenzinho é bem interessante, por que é mais confortável do que subir a pé.

No cume do morro vemos a imensa figura que simboliza o cristianismo no Brasil, sobretudo o catolicismo, pois a Mitra Arquiepiscopal do Rio de Janeiro é que detém o direito de imagem do monumento. Apesar disto, é possível ver todo tipo de religioso visitando o local, inclusive protestantes – e inclusive ateus, como eu. Numa das novas sete maravilhas do mundo, de braços abertos sobre um Rio de Janeiro babélico, o verdadeiro fascínio e temor misturados a um só tempo estão na contemplação das contradições da cidade. Abaixo de Cristo: a favela e o asfalto; a mata da floresta e o concreto dos prédios; a alegria e a tristeza de um Vasco vs Flamengo no Maracanã, ouvidas lá do alto; o pássaro e a asa-delta; a névoa e os carros. Mas quando estive lá em 2007, pude perceber o quanto o nosso Cristo é pequeno, tão pequeno mesmo diante de um homenzinho ao seu sopé, com a mesma barba, com semelhantes trapos e sandálias, e talvez de uma mesma etnia, mas que não está representada em pedra-sabão. E lá estava o homenzinho pedindo esmola a turistas, religiosos e cariocas, pedindo esmola diante daquela pequena Altíssima figura, mas por ser menor, por ser menor ainda do que todos ali, ainda que tão pequeno quanto qualquer um de nós, não é capaz de livrar ninguém de cair de lá de cima, nas trevas e nas graças do Rio de Janeiro. Mas talvez por isso, o Cristo esteja lá em cima, no alto do Corcovado, e vermos o quanto ele é pequeno, e o quanto somos ainda mais, e que deveríamos temer a nós mesmos e não a altura.

Todos sobem ao Cristo, seja a pé ou de trenzinho, mas não há quem carregue junto consigo uma cruz do tamanho do Rio de Janeiro.

Vinni Corrêa
Rio de Janeiro, 17 de janeiro de 2011

Vinni e o mendigo no Cristo Redentor

Abaixo de Cristo

Ele é carioca…

E há pouco tempo pensava que nosso Cristo fosse único – era um desses pensamentos infantis, igual pensamos que nossa mãe é a única que sabe cozinhar bem, nosso pai é o único que sabe consertar nossos brinquedos.  Até mesmo duvidei se havia algum Cristo no céu além daquele de pedra sabão, de cabelos compridos, de barba por fazer, de cara séria… E aí descobri que o Cristo do Rio de Janeiro não é o único, não é o maior, não é nada dessas coisas que criança gosta de dizer fazendo montão de gestos. Meu Cristo não era o mais maior e mais grandão de todo os mil milhões de infinitos universos. Descobri que por todo mundo há vários Cristos semelhantes ao nosso: Cristo da Concórdia na Bolívia; Cristo Rey na Colômbia; Cristo de Yungay no Peru; Cristo de Copoya no México; Cristo de la Noa também no México; Cristo do Cerro de Cubilete no recordista México; Cristo de la Habana em Cuba; Cristo Redentor de los Andes na fronteira do Chile com a Argentina; Cristo del Otero na Espanha; Cristo Rei em Portugal; Cristo Redentor da Polônia e, até mesmo no Brasil tem um cristo maior que o do Rio de Janeiro, é o Cristo Redentor de Elói Mendes (MG)…

Pensei, então, que a graça não deveria estar exatamente no Cristo, senão como ele estaria ali entre as sete maravilhas do mundo contemporâneo? A graça está no paraíso em que vive o Cristo: sobre o Corcovado, vizinho do Pão de Açúcar, vista pra Baía de Guanabara, possibilidade de fofocar a cozinha de inúmeros barracos das favelas e de ouvir um e outro partido alto.

Mas, não me dei por satisfeito e comecei a pensar que se mesmo com toda aquela paisagem não existisse o Cristo, será que seria bonito assim? O Corcovado vazio, não existiria o Sovaco do Cristo, nem um trilhão de souvenirs caros e bobos, o Didi ficaria sem pagar suas promessas (talvez nem promessa faria), não existiriam os braços abertos na música do Tom, nem o virar de costas na música do Chico, não existiríamos como cariocas ainda que suburbanos sejamos, talvez nem existiríamos como brasileiros que somos, talvez até mesmo o Raimundo lá no Norte e o Ítalo lá no Sul fossem brasileiros diferentes.

Aí me vi novamente criança, justificando o meu brinquedo, justificando os meus medos e dizendo que a minha casa é melhor que a dos meus colegas de colégio. Mas é que toda vez que subo ao Cristo, me sinto tão pequeno e Ele tão grande que de alguma forma volto a ser a criança que se deslumbra com a paisagem, assobia pros pássaros, se debruça sobre a Guanabara e até consegue acreditar em Deus, nem que seja nesse de pedra sabão.

Antunes
Rio de Janeiro, 27 de fevereiro de 2011

Até mesmo duvidei se havia algum Cristo no céu além daquele de pedra sabão, de cabelos compridos, de barba por fazer, de cara séria...

Um clássico ou um clichê? "Cristo Redentor, braços abertos sobre a Guanabara..."

Mas é que toda vez que subo ao Cristo, me sinto tão pequeno e Ele tão grande...

Toda a multidão quer um lugar no paraíso

Nôla e eu. Conseguimos a foto porque diante do Cristo todos os fotógrafos são solidários

Que Deus me perdoe...

Nôla, as pombas brancas e o Rio de Janeiro..

RIO DE JANEIRO A JANEIRO II – a cidade conhecida

O Rio de Janeiro é meu. Então, tal qual leão, preciso rugir e mijar em seus cantos para marcar território. Esta é a segunda série sobre a cidade. A primeira foi Rio de Janeiro a Janeiro – a cidade desconhecida. Como deu certo e publiquei até uns contos no Front do Rio, cabe dar continuidade à série. Serão 10 temas publicados ao longo de 10 semanas. Cada tema se desdobrará em 4 versões:  1 – Crônica escrita por mim. 2 – Um texto de um convidado inédito aqui. 3 – Uma crônica falada em vídeo. 4 – Um conto de minhas entranhas.

Agora leitor, é só acompanhar. A série começa dia PRIMEIRO DE MARÇO, aniversário do Rio de Janeiro. Abaixo o calendário de postagens.

Calendário de postagens

Primeira Semana. Tema: CRISTO REDENTOR

1 de março (terça) – Crônica
2 de março (quarta) – Cristo Redentor por Vinni Corrêa – participação especial
3 de março (quinta) – Crônica Falada
4 de março (sexta) – Conto

Segunda semana. Tema: PÃO DE AÇÚCAR

8 de março (terça) – Crônica
9 de março (quarta) – Pão de Açúcar por Carla Ceres– participação especial
10 de março (quinta) – Crônica Falada
11 de março (sexta) – Conto

Terceira Semana. Tema: MARACANÃ

15 de março (terça) – Crônica
16 de março (quarta) – Maracanã por Jônatas Amaral – participação especial
17 de março (quinta) – Crônica Falada
18 de março (sexta) – Conto

Quarta Semana. Tema: MARQUÊS DE SAPUCAÍ (Sambódromo)

22 de março (terça) – Crônica
23 de março (quarta) – Sambódromo por Venturieta  – participação especial
24 de março (quinta) – Crônica Falada
25 de março (sexta) – Conto

Quinta Semana. Tema: COPACABANA (Praia e calçadão)

29 de março (terça) – Crônica
30 de março (quarta) – Copacabana por Dagoberto  – participação especial
31 de março (quinta) – Crônica Falada
1 de abril (sexta) – Conto

Sexta Semana. Tema: LAPA

5 de abril (terça) – Crônica
6 de abril (quarta) – Lapa por Emily Aparecida  – participação especial
7 de abril (quinta) – Crônica Falada
8 de abril  (sexta) – Conto

Sétima semana. Tema:  PRAIA DE IPANEMA

12 de abril (terça) – Crônica
13 de abril (quarta) – Ipanema por Xandinha Magalhães  – participação especial
14 de abril (quinta) – Crônica Falada
15 de abril  (sexta) – Conto

Oitava semana. Tema:  LAGOA RODRIGO DE FREITAS

19 de abril (terça) – Crônica
20 de abril (quarta) – Lagoa por Betona  – participação especial
21 de abril (quinta) – Crônica Falada
22 de abril  (sexta) – Conto

 

Nona  semana. Tema:  JARDIM BOTÂNICO

26 de abril (terça) – Crônica
27 de abril (quarta) – Jardim Botânico por Nathy Fetim ACDC  – participação especial
28 de abril (quinta) – Crônica Falada
29 de abril  (sexta) – Conto

Décima semana. Tema: QUINTA DA BOA VISTA

3 de maio (terça) – Crônica
4 de maio (quarta) – Ramon Ramos  – participação especial
5 de maio (quinta) – Crônica Falada
6 de maio  (sexta) – Conto