O moleque flatulento

Assim como existem em estabelecimentos espaços para fumantes e não fumantes, deveria existir nos aviões com relação às crianças: espaços para crianças e não crianças. Respondam-me a pergunta: pode-se embarcar portando armas? Não! Então como se pode embarcar portando crianças? Sou, desculpem-me a intolerância, favorável a um apartheid infantil nos aviões. Acredito que crianças e cães deveriam ir juntos, trancafiados naquelas gaiolinhas, ao lado das bagagens.

Com o hábito de viajar, acabamos banalizando alguns bons costumes e, com a banalização, às vezes os perdemos. Desta vez que viajei à Marabá me esqueci de pedir um lugar à janela. Resultado: meu acento foi reservado ao corredor. Ao sentar no avião, comecei as mais honestas orações para que ninguém sentasse naquela fileira e eu pudesse ir sentado na poltrona que queria. Aos 48 minutos do segundo tempo, entrou uma mãe arrastando um moleque. Resolvi mudar minha oração: Deus, que qualquer um sente aqui, menos este moleque agitado. Oração não atendida, o moleque e a mãe sentaram-se justamente ali, 8A e 8B, enquanto eu caía derrotado pela 8C.

Logo fecharam as portas, olhei pra trás e vi que várias fileiras estavam inteiramente vazias. Chamei a aeromoça e anunciei: – Vou mudar de lugar pra sentar na janela, tá? – Assim eu aproveitaria e, além de sentar à janela, me livraria daquele moleque loiro com cara de intérprete de personagem da Profecia. Antes da aeromoça responder, a loira mãe do moleque, mui gentil e amável falou: – Não por isso, pode se sentar aqui no meu lugar, não faço questão da janela. Totalmente sem graça e de plano sabotado, não tive como recusar a oferta: lá fui eu para a janela, ao lado do moleque da Profecia com o 666 estampado na nuca.

Assim que o avião decolou, levantou-se no avião um odor de fraldas cagadas, um cheiro de leite estragado, um aroma de peido que só poderia ter saído da bunda de uma criança. Olhei pro moleque e ele ria feliz: – mamãe, tamo voano!

Assim que passamos das nuvens, o flatulento resolveu ficar meu amigo, olhou pro lado e perguntou meu nome. Respondi e retribuí a pergunta. Ele me respondeu Pedro, mas eu juro, estimado leitor, que só consegui ouvir Peido. Passados mais dois minutos o cheiro novamente tomou conta do avião.

Passada meia hora de vôo, o moleque, não sei por que cargas d’água, já achava que eu era seu amigo de colégio: dava-me tapinhas no braço, brincava de boxe com meu cotovelo e puxava a gola da minha camisa. Enquanto isso, sua bela mãe ouvia seu MP3 de olhos fechados. Tomado por um maldito espírito benigno (com toda a força que a contradição permite) resolvi retribuir a amizade do moleque e, imbecilmente, fiz cosquinhas na sua barriga. Novamente, sentiu-se o cheiro do incrível traque que, não sei como, aquele serzinho conseguiu dar. Porém, desta vez, o maldito de mão amarela se entregou: – Mãe! Mãe! Eu sou um peidão! Hahahaha. Sem graça, a mãe fingiu não ouvir, mas suas bochechas coradas a entregaram.

Já beirando uma hora de vôo, o flatulento cismou que tinha que olhar pela minha janela e se jogou por cima de mim pra ver a maldita paisagem. Com a sua bunda empinada e o indicador colado na janela, ia narrando cada nuvem que passava. Foi aí, leitor, foi nessa hora, que novamente aquela bunda de bebê disse ao mundo ao que vinha. Diante de seu peido rasgado, sua mãe nervosa olhou pela janela e gritou pra todo avião ouvir: – Se você não parar de peidar, vou fazer você descer do avião agorinha mesmo! Depois disso, informo: fiz uma viagem tranqüila.

Antunes
Ourilândia(hahahhahahaha!), 23 de março de 2010

2 Respostas para “O moleque flatulento

  1. HAHAHAHAHAHAHAHAHAHA. Se deu maaaaaaaaaaal!

  2. phhhaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa… track! êpa…

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