É bem difícil achar quem diga isto, mas eu digo: a Quinta da Boa Vista é um dos meus lugares favoritos no Rio de Janeiro. Não porque seja realmente melhor do que outros, mas porque me remete à infância e nossa infância é sempre a melhor infância, os lugares de nossa infância são sempre os melhores lugares, as estórias de nossa infância são sempre as melhores estórias.
Recentemente, me surpreendi ao ver o desenho Rio: lá estava a Quinta. Dentre Corcovado, Pão de Açúcar, Sambódromo, Lapa, acharam-lhe um lugar. Quando a vi, já não via mais o desenho Rio, via o desenho de mim mesmo que passava em minha memória. Vi as curtas manhãs de sol em que meu pai me levava para correr no gramado da Quinta; vi os macaquinhos de brinquedo, patos de madeira, bolas gigantes que os vendedores vendiam na Quinta; vi os cachorros-quentes quase frios; vi cada jaula de animal; vi cada peça do museu e vi as letras dos créditos do filme que subiram ao acender das luzes do cinema.
Foi na Quinta que meu pai me ensinou a viver outras épocas: “quando ouço o ranger do piso de tábua corrida, imagino Dom Pedro andando por este palácio com aquelas roupas pesadas e sem tomar banho.” Talvez por isto eu nunca tenha gostado de tomar banho, para parecer o imponente imperador que andava pelas manhãs de minha infância, o imperador João Felpudo como me rebatizaram meus pais. E assim imaginei Dom João comendo suas coxas de galinha com as mãos em uma imensa mesa de jantar; imaginei Dom Pedro I a rolar com as escravas pela grama; imaginei Dom Pedro II a chorar escondido porque não queria ser rei de lugar algum que não fosse seu próprio quarto.
Visitei incontáveis vezes o zoológico e ainda o visito pelo menos uma vez ao ano. Sei a ordem das jaulas de cor e para o fastio e treino de minha esposa, vou puxando-a pela mão como fará o filho que teremos um dia. Falo sobre cada animal, leio pela milésima vez cada plaquinha e explico o tamanho da língua das girafas; explico qual a diferença entre um camelo e um dromedário; explico porque o condor me parece um animal tão assustador; explico quais são os micos, os chimpanzés, os babuínos, os orangotangos; e ainda explico que os tigres têm listras e as onças pintinhas.
Volto à Quinta da Boa Vista, algumas vezes como turista, para tirar as mesmas fotos nos mesmos lugares e ainda assim ser totalmente diferente. Volto à Quinta da Boa Vista como mero passante, igual fiz durante meses de minha vida quando saía do trabalho e ia a pé para a faculdade, só para ter que cortá-la por inteiro. Volto à Quinta da Boa Vista constantemente em minha memória; volto à Quinta da Boa Vista toda noite quando durmo: é um lugar infantil, sem violência, sem prostituição e já não há mais Quinta da Boa Vista possível para mim que não seja a Quinta da Boa Vista da voz de meu pai, da loucura de minha memória, das fotos com meus primos, da miniatura de minha irmã, das mãos dadas de minha esposa, do que sou.
Antunes
No avião, saindo do Rio, indo a Fortaleza, 24 de abril de 2011.
Ai, que inveja da sua infância! Esse lugar é o máximo! Tenho que conhecer. Façam uma crônica falada por lá e explique por que você acha o condor tão assustador. Beijos pra vocês!
hahaha. Carla, que bom! Sempre quis que minha infância fosse invejada. Pobre, o único motivo de orgulho que tem é na família e na infância. Quando você vier ao Rio, faço questão de te levar lá. Sei todas as jaulas e objetos do museu de cor.
Quanto ao condor, ele é assustador porque quando eu era pequeno meus primos diziam que era um urubu gigante que come carne de gente, aí traumatizei. haha. Eu chorava só em passar na jaula do condor.
A crônica falada já tá feita tem uns meses, quinta-feira eu posto.
Beijos, obrigado pela visita.
Aí, historiador, por que raios o nome do lugar é Quinta da boa Vista!?
Abs
Jonatã cara de maçã, essa é mole. Vamos lá: Quinta é uma propriedade rural que possua uma residência (no caso, aquele terreno com o palácio) e boa vista porque dali se tinha uma ótima vista da Baía de Guanabara (há quanto tempo, né?) Abração! Qualquer coisa mais, estamos aí.
Que texto lindo, tudo que envolve infância me emociona muito. Não tem como falar de infância sem ter um pouco de afeto, de singeleza e de sentimento. Amei o último parágrafo.
Cara, a primeira foto só revelou que tu não mudou NADA.
Sua irmã parece demais com você.
FIQUEI COM MUITO NOJO DO LAGARTO TRAVESTI! Achei a foto mais bizarra do teu blog… HAHAHAHAHAHHA D:
Olha o Galera aí, haha, resgatando as fotos.
Estou fazendo um passeio literário por aqui. Comecei pela Quinta e me pareceu também muito familiar…
Agora, é apenas uma impressão minha ou a camisa do Che também é histórica? rrsrsrsrr…
Abraços.