O homem moderno é obcecado por altura e passarelas. Eu não. Ainda sou um medieval daqueles que temem os ares, temem o mar, temem os monstros. A maior punição medieval era ficar trancafiado no alto de uma torre, as pontes que ligavam uma torre a outra eram sinal de perigo, os dragões incandescente sempre se relacionavam de alguma forma com pontes, altura, penhascos… Sou um vassalo dos que nasceram da terra e hão de ir para baixo dela ao morrer.
Digo isto por conta do Mercado Central de Fortaleza, assustador como tudo que é moderno. Suas passarelas cruzam-se nos ares como um balé de acasalamento de dragões. Se eu fosse um cavaleiro as desafiaria. Vassalo, cabe-me o chão e, no máximo, arriscar uma trova galhofesca com o que vejo.
Aqueles dragões brancos e entrecruzados se alimentam de castanhas, couro, coco, palha, pano, pernas (pra que tanta perna, meu Deus! – volto a perguntar o que perguntou Drummond). Sigo, no máximo, até o segundo andar, depois desço, pois não confio na obra de arquitetos e não confio em mim, obra do arquiteto que é Deus, dizem os maçons. No subsolo, fotografo, observo o servo que sou e acostumo-me com as profundezas que me esperam pelo eternidade.
Antunes
Rio de Janeiro, 25 de junho de 2011
hahaha. nunca entendi porque tantos andares se todos são um “mais do mesmo”, vãs repetições a confundir e (cansar) mortais turistas, rs. Gostei muito desse post cara! abraço!
Lembrei da música do Chico, Almanaque:
Diz quem foi que fez o primeiro teto
Que o projeto não desmoronou
Quem foi esse pedreiro esse arquiteto
E o valente primeiro morador
Imagina a quantidade de tentativas e fracassos Você está é certo, não arrisque.
Mais um senhor texto! A parte sobre a dieta dos dragões é ótima. Beijos!
Só você, nesse jeito velhaco de escrever, relacionaria mercado com épocas medievais mesmo…
E os Gigantes de Pedra, com seus milhares de olhos, observando as pessoas passarem no Largo da Carioca à noite?