Quando te batizaram assim, já devias ter certa idade. E por isso dizem-te velha? Não ligue, não te importes, vê este texto, nasceu agora e já tem suas rugas, seus defeitos, seus pesares. Evoco Paris, longe de se contar nos dedos a sua idade; e Pequim, quantos anos deve ter? Ao lado delas estás nova, vigorosa, forte… Não te deprimas, Vila do Espírito Santo. Afinal, 1535 está logo ali.
Ontem desabotoei a camisa e deitei sobre teu corpo de areia, sei que não sabes, afinal, quem sou eu diante de ti? Fiquei na Costa, esperando a noite pra ficar ao escuro contigo. Repousei e queria ir ao teu convento, ver-te de cima, mas conventos não abrem à noite, principalmente pra mim, explorador, turista, vouyer…
Lavei os pés em tuas águas, limpei-me de tuas areias, depois de suar, comer, dormir… parti e ainda nem era dia, atravessei a ponte que hoje te separa de mim. Adeus, velha, desculpe, senhora, dona, sei lá, um dia volto e nem te lembrarás mais desta noite (mas eu, sim).
Antunes
Vitória, 17 de dezembro de 2009