Donde saem estas mulheres cholas que estão em todo e qualquer lugar mesmo quando não há ninguém? Estão nas cidades entre o cinza e o ouro, estão por trás dos cestos de folha de coca, estão no meio do nada e no nada sem meio, estão nos lugares em que nem a lhama chegou. Estão por ali, atrás dos montes, debaixo das árvores, no meio do mato. Talvez a mijar. Mas como conseguem tal proeza se levam consigo tanta roupa que deve ser mais difícil de tirar do que deter qualquer vontade natural ou sobrenatural? E quando se reúnem há tanta festa. E não é que elas riem e não é que até gargalham! Encontrei montão de cholas numa festinha em Lloco Lloco, todas saudando o padroeiro, um santo bom que nem sei qual é. Dançavam dentre os homens que bebiam Paceña na roda. Dançavam, a subir e a descer do mirante. Dançavam inda que estáticas. Dançavam com os olhares. E ali estavam as cholas, em Lloco Lloco, como estão em toda a Bolívia. E ali estavam as cholas, mais presentes que qualquer santo padroeiro.
Antunes
Rio de Janeiro, 5 de agosto de 2010