Depois de visitar a Romaria e o Santuário dos Matosinhos, a pergunta era: como sair dali? Congonhas não é dinâmica como as outras cidades históricas. Sorte que contamos com a colaboração dum sujeito extremamente solicito:
– Senhor, por favor, como a gente pega um taxi aqui?
– Eu ligo pra vocês.
Foi assim, pedimos a informação e ganhamos o taxi.
Em 15 minutos o veículo estava nos levando. O motorista era um senhor de cabelos grisalhos e ar sério. Deixou-nos por 15 Reais na rodoviária e, ofereceu, por mais 150, levar-nos até São João Del Rei.
– Só mais 150 deixo vocês na porta da pousada.
– Tá muito caro pra gente, estamos fazendo uma viagem de baixo orçamento.
– Vou ficar aqui esperando caso mudem de idéia.
Ao chegarmos ao guichê fomos informados que todos os ônibus estavam lotados. A tal de Viação Sandra enchia os ônibus em outras cidades e chegava a Congonhas sem uma vaguinha sequer. A atendente matou o pouco de esperança que tínhamos: “ó, a chance de vir com lugar é quase zero, tá chegando tudo lotado.”
Para que não nos sentíssemos sós, Deus enviou uma companhia:
– Cês tão esperando o ônibus pra São João?
– Isso.
– Não tem lugar, né?
– Tem não.
Nisso, surge nosso taxista:
– Vocês ainda estão aí? Por que não dividem o taxi com esta senhora. Levo vocês até São João Del Rei.
Ficamos animados, mas a senhora foi irredutível:
– Não, obrigado.
Ficamos às moscas esperando o ônibus e nada dele, nem cheio, nem vazio.
Dez minutos depois, volta o taxista.
– Pois ainda estão aí?
– É, né?
– Eu faço por vocês por 130. O que acham?
A senhora uma vez mais se mostrou irredutível.
Passados mais 10 minutos, volta o taxista e fala aos nossos ouvidos:
– Olha, vou fazer por 115 pra vocês, só pra não levar esta senhora. Que mulher mais irredutível!
No sufoco, minha esposa e eu aceitamos a proposta e partimos de taxi até São João Del Rei, graças à incompetência da Viação Sandra, à irredutibilidade da senhora e à insistência do taxista.
O piloto, aquele senhor grisalho e sério, foi esbravejando contra a senhora:
– Que mulher maldita, não queria andar no meu taxi. Bicho ruim de jogo, bla, bla, bla.
De repente, no meio da conversa ele nos faz a primeira revelação:
– Vocês sabiam que eu sou adventista?
Pensei cá comigo: “e daí?” No segundo seguinte ele nos deu um cartão.
– Leram aí, sou adventista: ADVOGADO e DENTISTA. Hahaha.
Seguimos a viagem ouvindo sobre as suas três profissões: advogado, dentista e taxista. De repente, ele resolve fazer a segunda e bombástica revelação:
– Se eu contar mais uma coisa pra vocês, juram que não contam pra ninguém?
– Claro, fique à vontade.
– Sou descendente direto de Luís XVI.
Fez-se silêncio, leitores. E fomos assim, até São João Del Rei, em reverência à vossa majestade.
Antunes
Rio de Janeiro, 13 de dezembro de 2010
A horrível e imprestável Viação Sandra (repare na mão de insatisfação que captei no canto inferior direito da foto)