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Crônica Falada 7 – Orla de Copacabana

Benfazejos leitores e espectadores,

Fui até Copacabana, mas da Princesinha do Mar já não restavam os ossos que são agora apenas desse meu boçal ofício de escrevedor e bobo da corte youtubeana. Findada a monarquia, restou-me falar dos velhinhos de Copa, do eterno amigo Drummond e contar a história dos 18 do Forte…

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Antunes
São Paulo, 30 de março de 2011

Além da Maria Fumaça: os ônibus de Tiradentes-São João Del Rei

Aos que não estão dispostos a enfrentar o tumulto da Maria Fumaça, resta o ônibus. É, leitor, exatamente isto que leste. A Maria Fumaça é mais tumultuada em Tiradentes que os ônibus. São quinhentos milhões de braços querendo fotografá-la, são duzentos e cinqüenta milhões de pessoas querendo entrar ao mesmo tempo. Brigas para encontrar lugar e para sentar, crianças falando pelos cotovelos e a lentidão dos trilhos. Já os ônibus vão vazios, são rápidos e, claro, não têm a menor graça, mas são a melhor opção quando se tem que voltar a São João Del Rei. Duas vezes de Maria Fumaça é exaustivo, o melhor é ir de Maria Fumaça e voltar nos ônibus da viação Presidente. Os horários são pouco divulgados por ambas as cidades, então, fica aqui, bem abaixo, um ato de solidariedade:

Horários dos ônibus de Tiradentes/São João Del Rei e São João Del Rei/Tiradentes

Antunes

Rio de Janeiro, 3 de janeiro de 2011

A difícil travessia de Congonhas a São João Del Rei

Depois de visitar a Romaria e o Santuário dos Matosinhos, a pergunta era: como sair dali? Congonhas não é dinâmica como as outras cidades históricas. Sorte que contamos com a colaboração dum sujeito extremamente solicito:

– Senhor, por favor, como a gente pega um taxi aqui?

– Eu ligo pra vocês.

Foi assim, pedimos a informação e ganhamos o taxi.

Em 15 minutos o veículo estava nos levando. O motorista era um senhor de cabelos grisalhos e ar sério. Deixou-nos por 15 Reais na rodoviária e, ofereceu, por mais 150, levar-nos até São João Del Rei.

– Só mais 150 deixo vocês na porta da pousada.

– Tá muito caro pra gente, estamos fazendo uma viagem de baixo orçamento.

– Vou ficar aqui esperando caso mudem de idéia.

Ao chegarmos ao guichê fomos informados que todos os ônibus estavam lotados. A tal de Viação Sandra enchia os ônibus em outras cidades e chegava a Congonhas sem uma vaguinha sequer. A atendente matou o pouco de esperança que tínhamos: “ó, a chance de vir com lugar é quase zero, tá chegando tudo lotado.”

Para que não nos sentíssemos sós, Deus enviou uma companhia:

– Cês tão esperando o ônibus pra São João?

– Isso.

– Não tem lugar, né?

– Tem não.

Nisso, surge nosso taxista:

– Vocês ainda estão aí? Por que não dividem o taxi com esta senhora. Levo vocês até São João Del Rei.

Ficamos animados, mas a senhora foi irredutível:

– Não, obrigado.

Ficamos às moscas esperando o ônibus e nada dele, nem cheio, nem vazio.

Dez minutos depois, volta o taxista.

– Pois ainda estão aí?

– É, né?

– Eu faço por vocês por 130. O que acham?

A senhora uma vez mais se mostrou irredutível.

Passados mais 10 minutos, volta o taxista e fala aos nossos ouvidos:

– Olha, vou fazer por 115 pra vocês, só pra não levar esta senhora. Que mulher mais irredutível!

No sufoco, minha esposa e eu aceitamos a proposta e partimos de taxi até São João Del Rei, graças à incompetência da Viação Sandra, à irredutibilidade da senhora e à insistência do taxista.

O piloto, aquele senhor grisalho e sério, foi esbravejando contra a senhora:

– Que mulher maldita, não queria andar no meu taxi. Bicho ruim de jogo, bla, bla, bla.

De repente, no meio da conversa ele nos faz a primeira revelação:

– Vocês sabiam que eu sou adventista?

Pensei cá comigo: “e daí?” No segundo seguinte ele nos deu um cartão.

– Leram aí, sou adventista: ADVOGADO e DENTISTA.  Hahaha.

Seguimos a viagem ouvindo sobre as suas três profissões: advogado, dentista e taxista. De repente, ele resolve fazer a segunda e bombástica revelação:

– Se eu contar mais uma coisa pra vocês, juram que não contam pra ninguém?

– Claro, fique à vontade.

– Sou descendente direto de Luís XVI.

Fez-se silêncio, leitores. E fomos assim, até São João Del Rei, em reverência à vossa majestade.

Antunes
Rio de Janeiro, 13 de dezembro de 2010

A horrível e imprestável Viação Sandra (repare na mão de insatisfação que captei no canto inferior direito da foto)

Veredas

Pobres os cegos que jamais verão o que vi. Em uma lata de sardinha disfarçada de ônibus atravessei os Vales Centrais da Bolívia, pelas janelas vi o Sol nascer e morrer, vi a Lua surgir e partir por dentre relevos que não sei classificar e, graças a isso, ganharam conotações ainda mais incríveis, pois faltavam-me conceitos, as palavras não davam conta. Os cactos não explicavam os rios, as rochas não explicam a relva, os jumentos perdidos entre o nada talvez guiassem as cholas para lugar nenhum que não fosse o próprio ali.  Eles, todos, móveis e imóveis, ficavam. Eu imóvel passava, de Santa Cruz rumo a Sucre.

Antunes
Rio de Janeiro, 14 de julho de 2010

Vi o sol morrer

Vi o sol nascer pelas sujas janelas do ônibus

O sol nasce a conversar com o rio

As cholas visitam o ônibus a gritar MANDARINA

Casebre boliviano

Cactos sucreños dentre capins

Dar com os burros n'água

Vales Centrais

La terminal bimodal

O leitor deve estar lembrado, caso não esteja, lembro-o agora: o turismo nos é secundário nesta viagem, viemos – minha esposa e eu – a trabalho: pesquisar a rede urbana boliviana, principalmente a de Santa Cruz de la Sierra. Sendo assim, algo pouquíssimo turístico nos esperava: uma imersão de uma tarde inteira na rodoviária de Santa Cruz, ou melhor, no Terminal Bimodal. Fique com este nome, pois não é comum em Santa Cruz falar rodoviária e sim Terminal e, em completude a ele: Bimodal. O nome é porque recebe não só ônibus, mas também trens, o famoso trem da morte.

Passamos a tarde fazendo um reconhecimento de todas as empresas de ônibus que atendem Santa Cruz de la Sierra e roteirizando seus destinos. Ou seja, com um caderninho em mãos fomos anotando as empresas que iam pra La Paz, Sucre, Cochabamba, Oruro, Potosí etc. etc. etc. etc. etc. Uma percepção talvez tenha sido a mais curiosa: são muitas as empresas e algumas são tão pequenas que parecem só ter um ônibus. Ou seja, se você pretende circular de uma cidade para a outra de ônibus, tome cuidado na hora de escolher, até porque os preços variam muito pouco. Sendo um tanto preconceituoso, pode-se livrar de alguns possíveis problemas como as companhias com nomes de funerária: Divino Niño e Juan Pablo II. Escolhendo a empresa certa, pode-se fazer uma ótima viagem e economizar muito, pois as passagens são muito baratas. Com pouco mais de 20 Reais o suficiente para fazer 1:30h do Rio a Teresópolis, se pode fazer uma viagem de 16h de Santa Cruz até Sucre.

Depois de eliminar de sua lista as empresas que possuem os nomes mais esdrúxulos, fica muito difícil escolher entre as que sobraram, pois os balcões são todos precariamente iguais e os vendedores disputam os clientes no grito: “Sucre-sucre-sucre-sucre-sucre-sucre…” , “Lapa-Lapa-Lapa-Lapa-Lapa-Lapa-Lapa-Lapazzzzzz…” compõe a gritaria ambiente que acompanhará sua escolha. É interessante pedir para ver a foto de ônibus (que às vezes é bastante irreal) e perguntar o que ele possui. Não se guie pelo bom atendimento e simpatia dos funcionários, pois foi numa dessas que minha esposa e eu entramos em uma furada ao viajar pela companhia Illimani com seus bancos desconfortáveis e seu interior imundo. A companhia que possui excelentes ônibus e oferece bastante conforto na viagem é a vermelha chamada Copacabana, foi nela que fomos de Sucre para La Paz e voltamos de La Paz para Santa Cruz. Sendo assim, se você quer viver grandes aventuras, mas se dá ao direito um banco confortável, fica aí a sugestão.

Antunes
Teresópolis, 31 de maio de 2010

O Termina Bimodal visto do lado de fora

O corredor interno do terminal bimodal

Eu no segundo andar do Terminal Bimodal

A lanchonete do terminal

A entrada do banheiro do terminal bimodal - custa 1 Boliviano

Divino Niño. Quer viajar com ele???

Talvez você prefira ir com o João Paulo II!!

A onça

Em Parauapebas tive os primeiros contatos com as histórias da onça. Contam que, na Vila de Carajás, o bicho entrou por dentre as casas e devorou um infeliz menino. Outros dizem que o tal menino é que foi até o mato e a onça só o matou no intuito de proteger os filhotes. Sempre que vou ao interior do Pará, me lembro das histórias de onça e queria, um dia, sentir o espanto de estar diante de uma.

Para se chegar à Mina de Paragominas há que se atravessar a floresta. Leva-se uma hora de ônibus. Os trabalhadores vão dormindo confortáveis no ar condicionado. Ao voltar para a cidade, no meu primeiro dia por lá, todos dormiam, exceto eu. Aqueles mineiros perdiam espetáculos inéditos pra mim, quiçá cotidianos pra eles, como as imensas aranhas caranguejeiras que atravessam as ruas e o sacudir das árvores por micos, cutias e pássaros de infinitas cores. Naquele dia, mais que isso, vi além: vi a onça. Entre o mato noturno, estava ela. Esfreguei os olhos e quando vi novamente, o ônibus já tinha ido. Foi rápido demais, cheguei a achar que fosse ilusão, sono, fome. O pior é que não havia uma alma desperta para confirmar ou negar o fato.

No dia seguinte, voltei ao hotel atento ao mato rasteiro. Bem ao lado das rodas do ônibus estava a onça. Ninguém a via – desprezada, a pobre – caída sem sua importância de onça. Minha certeza foi tanta que cheguei a duvidar de tê-la visto. Precisaria confirmar no terceiro dia.

Novamente, voltei da mina de ônibus e, no mesmo local, junto à quinta árvore de galho retorcido em espiral, tive certeza, estava a onça. Impulsivo, gritei para o motorista: Pare! Pare o ônibus! Assustado, pisou no freio e parou o veículo bruscamente. Todos acordaram apavorados. Eu corri para a dianteira do automóvel e ordenei: abra a porta! Desci. Fui até o mato rasteiro. Pensei tê-la perdido de vista, mas logo a encontrei. Estava ali, a onça pintada. Imponente aos meus olhos, ficamos frente a frente. Abaixei-me, toquei-a, agarrei-a, levantei-a, dobrei-a ao meio e coloquei-a no bolso. Não é sempre que se acha uma nota de cinqüenta Reais perdida, inda mais no meio da floresta. Voltei ao ônibus e, desta vez, dormi.

Antunes
Rio de Janeiro, 16 de fevereiro de 2010

O transporte

O melhor meio de transporte em Buenos Aires são seus pés. Nada como andar pelas ruas antigas, passar pelos prédios históricos, cruzar praças monumentais. Porém, longe de ser a única opção. O transporte de Buenos Aires é bom, barato, só não chega a ser bonito (diga-se de passagem, é bem feio), mas é melhor que o nosso. Os taxis estão pela metade do preço pra gente. Afinal, com o peso desvalorizado os brasileiros levam vida de bacana. O metrô (El Subte) custa cerca de sessenta centavos de Real, é antigo, sem ar condicionado e suas estações são azulejadas. Mas, a grande atração dentre estas, são os ônibus! Se você nunca teve a oportunidade de sair em um carro alegórico, será na Argentina que realizará este prodígio. Os ônibus são coloridos, possuem um bigode (esta frase roubei da Emily), e andam de franjinha: uma divertida junção de mau gosto e cafonice. Se você é um bom brasileiro e tem por hábito jogar suas moedas fora ou empatá-las em um porquinho, perca este hábito. Moeda na Argentina é coisa difícil e muito útil. Não pense em pagar os ônibus com notas, eles não aceitam, só vale moedinha. Se o tio Patinha resolve se mudar para a Argentina percorreria, molinho, o país num ônibus. Trocador, cobrador, não existe isso lá. Sendo assim, atualizemos o ditado: “na vida tudo é passageiro, menos o motorista.” No lugar desta profissão muito popular no Brasil, mas em vias de extinção, está uma robusta e mal-encarada máquina de moedinhas. Ali você coloca o dinheiro da passagem e ela lhe retribui com o troco e um recibinho.  Além disso, a máquina de moedinhas não avisa em que ponto saltar, não lhe diz que não tem troco, não dá o troco errado, não come cheetos durante a viagem, não alisa a mão das menininhas, não dorme durante o trabalho, nem grita: vai saltá, piloto! Ou seja, um retrocesso à diversão urbana! Trocadores de todos os países, uni-vos!

Antunes Rio de Janeiro, 19 de janeiro de 2010

Metrô

Os azulejos do Subte

O ônibus com seu bigodinho

A máquina de moedinhas que substitui o trocador do ônibus

A frente do ônibus

Transporte Estilo Angélica

Centro, uma Via Sacra

Vitória é uma porção de terra bastante irregular deitada sobre o mar. Sabe a Divina Comédia, aquela coisa de descer aos infernos e subir aos céus? É assim, em segundos. Embaixo estão os bares, teatros, cabarés, sexi shop, comércios em geral. Em cima estão as igrejas. São elas que olham tudo de cima. Nós olhamos de baixo, nos vendemos no porto, caímos da escada, enlouquecemos no tráfego. É possível organizar um passeio pelo Centro só baseado nas igrejas, enquanto caminha-se de uma pra outra vai se esbarrando com outros pontos históricos. O site da prefeitura de Vitória dá dica de seis, eu fui a quatro:

1 – Catedral Metropolitana de Vitória (Eu fui!)
Endereço: Praça Dom Luiz Scortegagna, Cidade Alta – Centro.

2 – Convento de São Francisco (Eu fui!)
Endereço: Rua Abílio dos Santos, 47, Cidade Alta – Centro.

3 – Igreja do Rosário
Endereço: Rua do Rosário, Cidade Alta – Centro.

4 – Igreja de São Gonçalo (Eu fui!)
Endereço: Rua São Gonçalo, Cidade Alta – Centro.

5 – Igreja e Convento do Carmo
Endereço: entre as Ruas Coronel Monjardim e Coutinho Mascarenhas, Cidade Alta – Centro.

6 – Capela de Santa Luzia (Eu fui!)
Endereço: Rua José Marcelino, s/nº – Cidade Alta.

As igrejas têm lá sua beleza e muita história. A de Santa Luzia é do século XVI, bem pequenina e parece uma ruína. A Catedral, como imaginável, é a maior, muito bonita por fora, feia por dentro e, como todas as outras, pessimamente conservada. O convento de São Francisco, praticamente abandonado, chama a atenção pelos seus sinos. A Igreja de São Gonçalo possui uma arquitetura simples e é jeitosinha.

A vantagem é que o centro de Vitória é bem miudinho e só cansa pelos sobe e desce de ladeiras e bonitas escadarias antigas. Sendo assim, dá pra conhecer lugares como:

– O Mercado Capixaba: feio pacas, mas tem lembrancinhas legais pra comprar.

– Teatro Carlos Gomes: uma bonita construção antiga.

– Parque Moscoso: um oásis no meio do cimento.

– Palácio Anchieta: sede do poder executivo.

Além disso, pegar ônibus em Vitória é bem tranqüilo e barato, dá pra caminhar até o ponto beirando o Porto de Vitória e vendo a bonita paisagem na hora de voltar pro hotel.

Antunes
Vitória, 16 de dezembro de 2009

Catedral Metropolitana de Vitória

Igreja de São Gonçalo, em Vitória e não em São Gonçalo. Eu disse DE e não EM.

Capela de Santa Luzia, pequeníssima e simples

Capela de Santa Luzia, pequeníssima e simples

Convento de São Francisco, se destaca pelos sinos

O Teatro Carlos Gomes

O mercado capixaba, feioso, mas útil pra lembrancinhas.

A bonita escadaria Maria Ortiz

O imponente Palácio Anchieta

Parque Moscoso, verde cercado de cinza

O antigo viaduto do Caramuru

Porto de Vitória, visto do Centro

A tela e o texto

Já disse em outras crônica, volto a dizer. Mineiro gosta de ser intelectual e apresenta as provas: quantos presidentes mineiros tivemos? Quantos poetas e prosistas mineiros? Minas Gerais cheira a cultura, dizem. Não sei se é exagero ou se está na medida, sei que em BH são muitos os teatros e o fato que mais me impressionou ocorreu no ônibus: lá, no lugar do povão, por onde passam milhares de pessoas todos os dias, estão escritores de todo o Brasil. Mas, como assim? Entre num ônibus de BH, sente no banco e olhe atentamente. Pendurado nas costas do acento da frente, você verá uma folha, plastificada, contendo um texto literário: poema, crônica, conto. O projeto é muito interessante e pode ajudar o trabalhador a melhorar a qualidade de seus engarrafamentos. O fantástico está no seguinte: não é você que escolhe o texto, é o texto que escolhe você. Foi ali que me escolheu A Mulher de Anacleto e sua vingança post-mortem. A curiosidade que trago é: será que alguém resiste a ler um destes textos e não cortar o barbante para levá-lo pra casa?! Há que resistir a tentação, senão, que se vingue a Mulher de Anacleto, que se vingue Lima Barreto.

Para quem quiser conhecer mais do projeto o site é: http://www.letras.ufmg.br/atelaeotexto/index.html

Antunes No avião da Gol, saindo de Belo Horizonte, rumo ao Rio de Janeiro, 13 de novembro de 2009.

tela e texto

Foto que tirei dentro do ônibus, lendo A Mulher de Anacleto.

No ventre duma bexiga

“Uma das turmas foi cancelada”. Recebi esta notícia à noite e tive minha volta ao Rio antecipada. Como não estava por dentro de todos aeroportos próximos, restaram-me duas opções: 1-esperar de sexta-feira até segunda; 2-ir de ônibus até Belém e voltar ainda no sábado.

Insano, escolhi a segunda opção. Ainda era quinta à noite: liguei para o meu guia, Luiz Gonzaga, e pedi que comprasse, por favor, minha passagem de ônibus em Parauapebas.

Ocorreu como previsto: sexta-feira, mal nascia a Lua, mal se punha o Sol, eu tava na rodoviária de Peba. Tive o prazer de conversar com uma senhorinha muito engraçada, vendedora muambeira, que dizia ter morado e trabalhado na Goiânia Francesas, seja lá o que for isso.

Quando entrei no ônibus, tomei a seguinte decisão: farei toda a viagem sem sequer mover um músculo, só o suficiente pra respirar. Detive-me em posição fetal e assim foi. Viajei dormindo a viagem inteira e fui premiado com a sorte de um furo no pneu (do ônibus) e o aumento da viagem de 14 para 16 horas. Além disso, o ônibus tinha um cheiro tão forte, mas tão forte de mijo que aprendi a respirar de formas diversificadas. De madrugada, sonhei que estava no ventre de uma bexiga, do qual só nasceria de manhãzinha na rodoviária de Belém, onde reaprenderia a andar.

Antunes

Rio de Janeiro, 10 de novembro