Ainda estou vivendo o texto, sentado no aeroporto, passando o tempo a escrever esta crônica. Quando cheguei em Vitória, logo achei muito estranho o aeroporto de uma capital ser tão pequeno, mas, tudo OK, quem sou eu pra dizer das medidas de aeroportos?, não sei nem das minhas medidas. Veio a segunda, a terça, a quarta e a quinta-feira e uma das instrutoras do curso que acompanhei trouxe à tona, novamente, o tema. “É um absurdo uma cidade como Vitória ter um aeroporto desses.” Pensei: na falta de assunto deve estar falando isso. Neste mesmo dia, 17 de dezembro de 2009, volto pro Rio de Janeiro: cheguei no aeroporto encimaço da hora pela pouca disponibilidade dos taxis. Senhor, o embarque é imediato, informou-me o moço do chequim (é assim que se lê). Fui eu, contente e sorridente, (mentira, nunca estou contente e sorridente quando vou andar de avião, mas criar este ambiente de felicidade é fundamental para criar um de frustração depois) até a sala de embarque, enfrentei uma fila por demais estranha e, quando chegou a minha humilde vez, vem o guardinha: “senhor, por favor, queira aguardar, pois ainda não estamos autorizando este vôo.” O pessoal que ia comigo neste 1735, começou a parar em volta da porta e ficamos ali obstruindo tudo, bem no meio do caminho, igual a pedra drummondiana. A entrada da sala de embarque foi acumulando gente e mais guardinhas chegavam e todo mundo sendo barrado e o pessoal pressionando e o guardinha nervoso e chegando gente e vindo fiscal e chegando mais gente e chegando quem tivesse que chegar e chegando gente e chegando até quem não tivesse que chegar… Quando uma senhora pseudo-lôra-quemada resolveu bancar a Vera Verão: Êpa, êpa, que confusão é essa?! Abre que quero entrar! O guardinha ficou com medo e a pseudo-lôra-quemada quase o engoliu. Só não comprei pipoca pra assistir, pois não gosto muito de pipoca, mas vale a lembrança. Peguei a máquina e tirei foto da confusão, muito melhor que Central do Brasil às 18h. Anoto algumas frases da pseudo-lôra-quemada:
– Eu quero saber com quem que eu posso reclamar!
– Se vocês não podem atender, então fechem o aeroporto!
– Diminuam os vôos! Diminuam, quero ver!
E a melhor:
– Aumentem o preço das passagens, assim menos gente vai poder voar e o aeroporto fica mais vazio!
Se não bastasse tudo isto, o destino acrescentou um elemento insólito a aumentar o caos aeroportuário: eis que entrou, no meio do lotado aeroporto, um time de basquete de paralíticos com direito a troféus e tudo mais. O que já estava apertado, lotado, inchado, ficou pior, quase a explodir! Sorte que os cadeirantes já carregam seus próprios assentos. Porém, isto rendeu frases, como de uma senhora já idosa que disse ao filho:
– Olha que pessoal mal educado, Jorge. Nem levantam pra me dar o lugar.
– É que eles são aleijados, mãe!
No meio do engarrafamento de cadeiras de rodas, bancos lotados, calor, banheiro impossível, a misteriosa voz do aeroporto anunciou: “Atenção passageiros do vôo 1735. Informamos que, devido a pancadas de chuva, o aeroporto Internacional do Galeão, no Rio de janeiro, encontra-se fechado para pousos e decolagens, pedimos que os senhores aguardem e, em instantes, traremos novas informações.” E assim se foi uma hora de espera, uma viagem terrível repleta de turbulências e, finalmente, o final da viagem a Vitória e deste texto.
Antunes
Iniciado em Vitória, 17 de dezembro de 2009 e terminado no Rio de Janeiro, 20 de dezembro de 2009.